São as pessoas que fazem a festa

Embora a cidade não festeje, numa das ruas de Aradas (uma das 10 freguesias de Aveiro), no Largo de S. João, celebrava-se o Santo que lhe deu o nome.

O dia era aguardado com uma promessa de alegria e de bem-estar entre todos. O Largo era fechado com lonas, montava-se um palco improvisado em cima de uma carrinha de caixa aberta onde os jovens da rua davam um concerto com músicas populares e covers dos artistas prediletos dos miúdos e graúdos. Cada vizinho recheava uma das várias mesas espalhadas com comida e bebida e onde todos partilhavam desse manjar. O encerramento da noite ficava sempre a cargo da voz doce da Dona Teresa, que silenciava toda a rua, enquanto cantava ao ritmo de uma viola. Se há momentos em que dava tudo para voltar atrás no tempo, este é um deles.

Há 30 anos atrás, tudo era longe e distante.

Perceptualmente, Aradas ficava a “milhares” de Km do centro de Aveiro, que, mesmo assim, não acompanhava as modernices de Braga. Sendo eu nascido e criado em Braga, festejar o S. João em Aradas era como sair do centro do mundo, percorrer caminhos estreitos e de terra batida sem nada em volta e acabar num lugar perdido e escondido, sem acesso à inovação. Nunca me senti tão feliz como nesse tempo. Amava o S. João com a mesma força que amava o Natal e o meu aniversário e quem me conhece sabe o quanto isso é importante para mim.

Ainda hoje me lembro do cheiro das comidas, das danças, das conversas e das risadas, das corridas pelos campos de milho no final do concerto e do sentimento de liberdade que todos sentiam naquele lugar.

Em mês de S. João, Braga veste-se a rigor para festejar com pompa e circunstância a ocasião. Nada é esquecido, desde as festas para a criançada, os bailaricos e as zonas de diversões para os mais noctívagos e ousados na dança. Braga não esquece a sua grandeza e exibe vaidosa a sua imagem de cidade airosa e colorida.

A minha alma velha já não me permite desfrutar dos longos passeios pela Avenida Central de martelo na mão e dos longos bailaricos até ao nascer do sol. Hoje em dia, o meu S. João fica-se por uma sardinhada com os amigos até que eles decidam caminhar pela cidade de Braga. E para mim, está perfeito.

Poderá ser difícil encontrar alguma semelhança, para além de ambos coincidirem na sua consequência de me fazer extremamente feliz, mas existe. Ambos acertam numa premissa, que muitas vezes tendemos a esquecer: são as pessoas que fazem a festa.

Todos devemos criar a banda sonora da nossa vida e, citando um velho e grande amigo: “existe música à nossa volta, o mundo é todo feito de música. Só temos que tirar para nós, aquilo que nos faz falta”. As pessoas são a nossa música.

Junho não é só o mês de celebrar, é mês em que os jovens são assaltados por medos e ansiedades nas suas decisões em escolher onde querem passar os seus anos como estudantes universitários. Compreendo bem as suas angústias no momento de decidir a Universidade, pois é uma fase relevante e que deve ser aproveitada ao máximo.

Em conversa com alguns finalistas, observo as suas preocupações em decidir grandes centros urbanos, defendendo a certeza de ser aí a melhor opção para viverem o que a vida tem de melhor.

Não serei eu a dizer o contrário, mas a experiência mostrou-me que, por vezes, essas decisões fazem-nos perder oportunidades de criar memórias que podem ser uma agradável surpresa.

A preferência onde devem prosseguir os vossos estudos e criar os alicerces para uma vida profissional, é demasiado séria para se basear apenas na dimensão da cidade que vos irá acolher. Escolham independentemente da localidade, “ouvindo” a música certa e seguramente serão felizes e com belas lembranças para quando chegarem à minha “velhice”.

São as pessoas que fazem os lugares e os lugares criam memórias felizes.

 

Paulo Khan