Hoje, quero desenhar este texto com linhas de entusiasmo e de agradecimento sobre um concerto que assisti há algum tempo atrás.
Para que não seja mal interpretado, terei maior cuidado ao escrever esta minha reflexão.
Embora seja um jovem adulto, há coisas que já me fazem confusão (não quero dizer que eu esteja certo ou errado, apenas é o que é) e eventos com muito barulho já mexem com o meu sistema nervoso.
Considero-me um apaixonado pela música, mas sinto-me afastado dos estilos, bem como dos seus temas, da música com que a rádio nos enche os ouvidos. Tenho preferido viajar com o rádio desligado, do que passar o tempo todo à procura da música certa.
Admito gostar de ouvir músicas de amores e desamores. Quem não gosta de se rever numa letra de alguma canção, onde vemos os momentos mais intensos da nossa vida? Sem dúvida, que a arte, seja ela qual for, imita a vida! Mas falta-nos mais. Falta-nos escutar músicas de intervenção, precisamos de mais Zecas (Afonso), Sérgios (Godinho), Josés (Mário Branco) e por aí adiante. A humanidade está a ir por caminhos perigosos e compete-nos, pelo menos, refletir sobre isso.
Em abril, a convite da minha irmã, fui assistir a um concerto da “Garota Não”. Aceitei a sugestão sem grandes expectativas, pois só conhecia uma música (que a bem da verdade, gosto muito). Se assistir a um concerto no Theatro Circo é mágico, ver, ouvir, emocionar-me com a “Garota Não” neste espaço lindíssimo, foi indescritível. A “Garota Não” conseguiu encher o teatro de magia com apenas 3 músicos, sendo a vocalista dona de uma voz doce, mas assertiva e uma contadora genuína de histórias de vida. Impossível não querer absorver tudo que ela tenha a dizer.
A “Garota Não” faz mais do que música. Faz intervenção pela música. E que saudades eu tinha de ouvir. A música dela faz uma cidadania ativa, chamando atenção para temas que recrudesceram com o confinamento: abuso sexual, violência doméstica, gentrificação, depressões e solidão, etc…
Não me lembro da última vez que o fiz, ou se algum dia o fiz, mas precisei de sair, no final do concerto, em silêncio. Não senti necessidade de comentar o que quer que fosse do que tinha acabado de ver, mas sim a vontade de parar e de pensar em tudo o que me acabaram de contar.
Faz hoje dois meses que saí do concerto, e, até hoje, ouço o seu último trabalho em todas as minhas viagens de carro e em cada repetição da música, reflito sobre o tema.
Chegou o Verão. Não vos peço que abdiquem dos “sunsets” e convívios de fim de tarde, dessa delícia que são os dias longos de luz. Mas, quero desafiar-vos a ouvir o álbum “2 de abril”. Acima de tudo escutem com atenção as letras. A música é boa para nos abstrair de tudo, mas, é também uma forma de fazer a cidadania, que nos ajuda a pensar sobre temas que escolhemos deixar para outros momentos; temas que vivem, respiram e estão mesmo ao nosso lado.
À “Garota Não” eu quero dizer, escrever e manifestar todo o meu respeito e admiração por tudo o que assisti naquele dia. A cidadania maior é aquela que se dá, que liga as pessoas, que faz de todos nós um elo vibrante dentro de uma mesma comunidade.
“Liberdade, querida liberdade. O nosso chão tem sonhos e vontades” (Garota Não, Canção a Zé Mário Branco).
O ZECA voltou …!
Paulo Khan